terça-feira, 6 de novembro de 2012

Tres histórias e um destino - O que a critica diz..

TRÊS HISTÓRIAS, UM DESTINO


Roberto Guerra

Três Histórias, um Destino A primeira coisa a ser dita sobre essa coprodução Brasil- Estados Unidos é que trata-se de um filme para evangélicos. E só. E estou falando de alguém fiel à sua religião e pouco crente com o bom cinema. A um protestante cinéfilo, talvez a produção soe como heresia, ao menos cinematográfica.

Inspirado em livro do missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, o longa, falado em inglês, é fruto da parceria entre a brasileria Graça Filmes e a norte-americana Uptone. Foi lançado em 100 salas em todo o país sem alarde, ao menos para quem não comunga da mesma crença de seu público-alvo. Não ocorreram sessões para imprensa nem estratégia de divulgação em veículos de comunicação laicos.

Assisti a Três Histórias, Um Destino num shopping center de São Paulo em sessão com lotação esgotada. A exibição foi antecedida de outra sessão igualmente cheia. Ao final, aplausos entusiasmados do público e brados de amém, lembrando muito o ponto alto de um culto religioso. A empolgação tem razão de ser: o filme segue uma crescente semelhante a de um ritual religioso e seu clímax se dá durante uma pregação. Uma benção para os fieis espectadores.

Como deixa claro o título, o filme narra três histórias paralelas de devoção. Os personagens centrais dessa trama de fé são Frank, Jeremias e Elizabeth. O primeiro é o pastor de uma congregação na Carolina do Norte que se esforça para arrecadar fundos para as obras do templo. Numa das cenas de abertura, enquanto prega para os fieis, defende aguerridamente o pagamento do dízimo, lembrando muito o autor do livro que deu origem ao filme.

Jeremias é um menino pobre cujo pai é alcoólatra e o irmão está metido num negócio ilegal de desmanche de carros. Sua mãe, evangélica fervorosa, tenta ao menos salvar a alma do filho mais novo levando-o para os cultos. Mas Jeremias, a certa altura, acaba seguindo o caminho errado e torna-se um jovem punguista.

Já Elizabeth é uma bela jovem frequentadora da congregação ao lado de sua mãe superprotetora. É lá que conhece o grande amor de sua vida, um partidão com quem acaba se casando. Depois da união, afasta-se progressivamente da igreja junto com o marido e a crise se abate sobre os dois.

Não há sutileza nem meio termo em Três Histórias, Um Destino. O filme não propõe nada, é apenas a extensão de uma pregação religiosa típica. Os três personagens, em determinados momentos de suas trajetórias, ousam se “afastar de Deus”. Só lhes resta, então, confrontarem o diabo, que inclusive dá o ar da graça no longa personificado, vejam só, como uma mulher atraente.

O coisa ruim também é materializado no filme através da bebida alcoólica e do adultério. Bebeu, está condenado. Pulou a cerca, as trevas lhe aguardam. Por sinal, a produção traça um paralelo entre as duas coisas. Beber e trair a mulher têm relação de causa e consequência, numa espécie de "uma-coisa-leva-a-outra" e tudo leva ao demônio.

Ao final, a paz do Senhor volta a reinar. Basta às ovelhas desgarradas voltarem ao rebanho. Pronto, o ladrão deixa de roubar, o bêbado vira abstêmio e adúltero para de fornicar. Há até espaço para milagres-miojo, desses que resolvem tudo em minutos, como quando um pastor faz o exorcismo de um paciente em coma (!) e o infeliz desenganado desperta do nada.

Apesar das situações inverossímeis, da fragilidade do roteiro simplório, das atuações fracas e do incômodo das poucas falas e excessos de narrativas em off, Três Histórias, Um Destino, ao que tudo indica, vai operar o milagre habitual da maioria do filmes de temática religiosa brasileiros que, mesmo muito ruins, consegue se transformar em êxitos de bilheteria. É a versão cinematográfica da “Teologia da Prosperidade
 

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